segunda-feira, 31 de outubro de 2011

MINHA PRIMEIRA LEITURA DE MUNDO


A minha primeira leitura de mundo é de uma pequena e pobre comunidade na roça, formada por menos de dez casas, cortada pelo que chamávamos de “rio”, mas que fora de épocas de enchentes, não passava de um riacho. Esse “rio” teve um papel decisivo em nossas vidas naquele tempo. É que morávamos no município de Ouro Preto, e o rio cortava a comunidade ao meio. Com a emancipação do município de Ouro Branco, o rio ficou como limite entre os dois municípios e a comunidade ficou dividida ao meio. A escolinha da comunidade, da qual meu pai era inspetor (voluntário), ficou do lado do novo município e o prefeito resolveu fechá-la. O drama atingiu em especial a minha família, que tinha muitas crianças em idade escolar.
Assim, o meu pai, que só tinha a quarta série daquele tempo, e a minha mãe, que mal foi à escola, foram quem alfabetizaram a nós, os filhos mais novos. Não me lembro de como aprendi a ler, mas sei que apesar dos recursos escassos, resolveram “investir” em mim: compraram um livrinho do autor Thomaz Galhardo, chamado “Cartilha da Infância”, que por sinal ainda o possuo. De resto estudávamos em livros velhos, escrevíamos em qualquer papel que conseguíssemos. Cheguei a escrever em lousa, que é um pequeno quadro de pedra, do tempo de meus pais. Lembro-me de uma vez que apareceu por lá um folheto de anúncio de uma festa religiosa e comecei a lê-lo; daí descobri que era capaz de ler com o folheto em qualquer posição, ou seja, de cabeça para baixo, invertido, ou pelas costas, já que era quase transparente.Ficou todo mundo admirado. Certa vez eu estava na venda que tinha lá “perto” (a uma légua!), e a dona percebeu que eu lia o que estava escrito nas latas de produtos, ficou com dó e me deu um monte de “Gurilândia”, que era o suplemento infantil do jornal Estado de Minas.
Nos anos seguintes, li todos os livros que tinha em casa, que não eram tantos. Alguns eram didáticos, principalmente de História, outros de contos, como: Branca de Neve, João Soldado etc. Só não pude ler um, que ensinava a escrever cartas para namoradas, não tive permissão pra lê-lo. Certa vez ganhei uma revista de Walt Disney, acho que era do Mickey, e fiquei encantado, não sei quantas vezes a li.
Só consegui frequentar uma escola com mais de doze anos de idade, quando fui morar na casa de uma família onde trabalhava e estudava à noite. Graças ao que aprendi em casa, já fui direto para 3ª série. Nesse tempo, além do que lia na escola, na casa onde morava havia muitas revistas antigas, em especial as de quadrinhos, e quando tinha uma folga eu as “devorava”.
Li muito nos tempos que estudei para o Supletivo, pois não fiz nenhum curso preparatório para as provas, como também não o fiz para o vestibular do curso de Letras. Assim sendo, a leitura da palavra escrita, nas formas e gêneros mais diversos, tem sido constante na minha vida. Porém a leitura da vida, do mundo ao redor, não tem sido de menor importância, desde aquele “rio”, aquele folheto, aquele livrinho...